Adriano Moreira, o PÀF e o Conselho de Estado
Esta direita está a reescrever a História da democracia e, na pressa, tropeça nos próprios esqueletos. A grande golpada foi a tentativa de festejar este ano, pela primeira vez, o 25 de novembro, ao arrepio dos atores, como se tivesse intervindo no processo cuja cadeia de comando começou em Costa Gomes, sucedido por Vasco Lourenço, Ramalho Eanes e Jaime Neves, os operacionais, sendo o “grupo dos 9” ideólogo e responsável político.
Esta direita, na sua ingratidão e raiva, já esqueceu o ódio que devotou a Melo Antunes e Vítor Alves bem como aos sobreviventes do «Grupo dos 9», democratas e patriotas.
Agora é a eleição de Adriano Moreira para o Conselho de Estado, modelo de democrata e patriota, segundo o proponente e autor dos epítetos, Paulo Portas. A idade do ancião não exige o apagamento do passado, desencardido pela escolha do PSD & CDS.
Adriano Moreira que, em 2009, considerou Salazar o maior estadista do século XX, foi seu secretário de Estado e ministro do Ultramar. A idade e a inteligência levaram-no a conformar-se com a democracia mas foi ele que, como Ministro do Ultramar, nomeou, no início da guerra colonial, Venâncio Deslandes governador-geral e comandante-chefe das Forças Armadas em Angola e que o demitiria na sequência de um discurso ambíguo cujas explicações não o convenceram ou não lhe foram dadas.
Adriano Moreira foi responsável pela maior violência e, quiçá, pela utilização de meios condenáveis na repressão com que o exército de ocupação respondeu à crueza dos atos terroristas, injustos e gratuitos, com que nacionalistas angolanos iniciaram a guerra de libertação de Angola.
Quem louva Adriano Moreira silencia que foi presidente do CDS e se manteve militante na expulsão da Internacional Democrata Cristã, por ser antieuropeísta e duvidosamente democrático.
Adriano Moreira (AM) foi, é e será sempre o reacionário que a democracia reabilitou. Concedeu-lhe comendas, o cume da carreira académica e cargos do Estado (deputado, vice-presidente da AR). Foi o ministro fascista que reativou o Campo do Tarrafal em 1961, Campo de Trabalho do Chão Bom, para prisioneiros oriundos das colónias. Ali sofreram a tortura e o degredo numerosos patriotas dos futuros PALOPs, incluindo o escritor luso-angolano, Luandino Vieira, nascido em Vila Nova de Ourém. Em 21 de maio de 1965, achando-se Luandino aí preso, há quatro anos, a Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu-lhe o Grande Prémio de Novela pela sua obra Luuanda. Quem tem memória sabe como a Pide agrediu os membros do júri e o regime suspendeu, durante meses, o Jornal do Fundão por se recusar a chamar-lhe terrorista, ao noticiar o prémio.
Continua convencido de que o frio torcionário, Salazar, foi o maior estadista do século XX, tal como Paulo Portas ou Cavaco Silva o julgam democrata. À sua imagem.
Adriano Moreira é o Conselheiro de Estado do agrado desta direita, e, quiçá, do ainda PR, mas jamais será uma referência ética, democrática ou patriótica. É apenas o fascista inteligente, culto e longevo de um país sem memória nem vergonha.
A esquerda caviar e a "A Direita petinguinha frita "
Como o porco do grego do Varoufakis saiu na Paris Match e tem uma mulher boa, um piano de cauda e um Mac e não vive debaixo de uma ponte, é mais um da chamada "Esquerda Caviar" (como assim nomeiam "Os-Que-Agora-Andam-Com-Azia" quem é de esquerda mas não é pobre, porque como todos sabemos, "comunista que é comunista é pobre e come a sua própria ranheta!").
Esta terminologia - "Esquerda Caviar" - já me enoja!
Para os que a proferem a toda a hora, o significado que lhe dão é o de alguém que ostenta uma ideologia de esquerda mas que depois não é pobre nem vive com ratazanas debaixo de uma ponte, pelo contrário, tem um computador Mac, um iPad e veste bem, logo - segundo os pobres imbecis que debitam este "slogan" - uma pessoa destas não pode ser de "esquerda" e se o for é por "moda" ou para se "armar em proletário" e é, portanto, da "Esquerda Caviar".
Ora, se há a "Esquerda Caviar" tem de haver também a "Direita Jaquinzinho"!
E quem é a "Direita Jaquinzinho"?
É aquela, em que sendo pobres e não tendo dinheiro quase para comer ou pagar a renda, votam na Direita (que os maltrata!) para se sentirem e comportarem como os ricos vizinhos do lado que têm um Mercedez, piscina e jardineiro.
São os que tendo uma reforma de merda, pensões miseráveis, estando no desemprego ou sendo obrigados a emigrar por falta de condições aqui no País, continuam sempre a dar o seu voto à Direita (que os humilha, assassina e tortura!).
Ao menos os da "Esquerda Caviar" ainda "gozam": têm iPad´s, pianos de cauda e mulheres boas!
Os da "Direita Jaquinzinho" são simplesmente masoquistas!
Querem "brincar aos ricos" mas nem o jogo do Monopólio têm para brincarem!
Comem umas carcaças sem nada lá dentro, dormem ao frio (não têm dinheiro para ligar aquecedores), andam de transportes públicos sobrelotados e com cheiro a suor, mas no dia das eleições lá estão eles vestidinhos a rigor com os seus fatos e vestidos de Domingo a votarem em quem os lixa.
Têm inveja de tudo e de todos e gostavam de ter uma vida melhor e mais confortável e, para isso, em vez de votarem em quem lhes pode mudar esse tipo de injustiça de viver (os Partidos de Esquerda), fazem o contrário e votam em quem os pôs nesta situação de pobreza (os Partidos de Direita).
Mas votam sempre na Direita!
Porque os seus vizinhos "ricos" também votam!
Porque "Dá Estatuto"!
Porque o "Hábito faz o Monge"!
O Óscar Wilde dizia: "Nunca entendi a Virtude da Pobreza!".
Pobres pobres imporéns imbecis!
Eis os Desgraçados da "Direita Jaquinzinho"!
Vítor Rua, 2015
POR NICOLAU SANTOS
Diretor-Adjunto
15 de Dezembro de 2015
Uma entrevista perturbadora. E um banco em agonia
Bom dia.
«Um leopardo quando morre deixa a sua pele. Um homem quando morre deixa a sua reputação». O ditado chinês, relembrado recentemente por Ricardo Salgado, aplica-se a três homens e uma instituição, que ontem lutaram ferozmente pela sua reputação.
José Sócrates esteve ontem na TVI para falar do processo judicial de que é alvo e das acusações de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais que lhe são imputadas. O ex-primeiro-ministro fala em causa própria e seguramente manipulará o que diz de acordo com as suas conveniências. Mas os factos que apresenta levam a que um cidadão admita que a justiça tem de dar respostas cabais a algumas das acusações de Sócrates e que os jornalistas aparentemente não fizeram todo o trabalho de casa.
Não, não compro a tese de Sócrates de que este processo tinha como objetivo levar o PS a perder as eleições legislativas de 4 de outubro – o partido a que pertence e de que esperava mais apoio - e há questões que devem ser esclarecidas na segunda parte da entrevista, a ser transmitida hoje, sobre a aparente desproporção entre os seus rendimentos e o nível de vida que levava. Mas é perturbador que mais de um ano depois da prisão do ex-primeiro-ministro, o Ministério Público ainda não tenha conseguido deduzir uma acusação; que a defesa ainda não tenha tido acesso a todo o processo, 59 tomos com cerca de 3000 páginas cada um, apesar do Tribunal da Relação ter decidido nesse sentido; que o segredo de justiça tenha sido sistematicamente violado e que Paulo Silva, o inspetor tributário que trabalha com o Ministério Público no processo, tenha escrito, preto no branco: «só existem três responsáveis por essas fugas de informação – que comprometem os trabalhos e a estratégia: ou eu, ou o procurador ou o juiz. E isto já passou todos os limites»; que o Tribunal da Relação tenha declarado o dia 19 de outubro de 2015 como data final do inquérito, mas que o Ministério Público não só tenha ignorado essa decisão, como o responsável pela investigação tenha declarado ser necessário alargar o prazo pelo menos até setembro de 2016».
No que se refere à acusação de corrupção, a mais grave que incide sobre Sócrates, envolvendo o Grupo Lena (e que, segundo o ex-primeiro-ministro, o Ministério Público considerou que poderia ter ocorrido nas PPP, na Parque Escolar, noutras obras públicas ou em todas), a argumentação foi demolidora – ou será que não é verdade? Nas Parcerias Público-Privadas, segundo Sócrates, das 21 aprovadas pelos seus governos, o grupo Lena integrou consórcios que venceram apenas duas delas. Mas mesmo nesses dois casos estava em franca minoria: numa tinha apenas 7,8% do consórcio, noutra 16,25%. Além disso, os dois concursos foram ganhos porque no primeiro a diferença para o segundo classificado era de 282 milhões de euros e no segundo de 202 milhões.
Quanto à Parque Escolar, ainda segundo Sócrates, dos 250 contratos adjudicados, o Grupo Lena ganhou dez, não sendo o maior fornecedor nem em número de contratos nem em valor. E os contratos foram todos ganhos porque o Grupo Lena ofereceu preços mais baixos que os outros concorrentes. Finalmente, o Grupo Lena terá ganho 0,25% de todos os contratos públicos durante as legislaturas de Sócrates e 0,36% durante os quatro anos de Passos Coelho. E é nestas matérias, a ser como diz Sócrates, que os jornalistas não terão feito bem o seu trabalho de casa, que, segundo ele, nem sequer é difícil, porque a informação está disponível.
O HERÓI !
Há uma expressão popular, habitualmente aplicável a machos boçais, mas que pretendem notabilizar-se através do dinheiro que têm, que vem mesmo a propósito. A expressão com que uma tal viril criatura pretendia tornar a legítima Esposa como emblema do seu sucesso social, é esta: "Se está na moda, ponha-se na Minha Senhora". Tal juízo é, com toda a evidência equívoco, tanto mais que a virtuosa Senhora já pode ter sido complacente sem que o Esposo tenha reparado .. No entanto, creio que esta decisão ostentatória - "Se está na moda, ponha-se na minha Senhora" , é bem representativa de certas realidades sociais deprimidas culturalmente e incapazes de formularem, só por si, correctos juízos de valor.
Estes episódios são similares aos das velhas beatas ignorantes que, ao ouvirem o sermão do padre, na festa do orago, com citações em latim, declaram, babosas : " O Senhor Vigário sempre fala muito bem !!! " . E depois rematam : "Não percebemos nada, mas foi tão bonito!".
Este Portugalinho sub-desenvolvido pode estar em vias de fazer do Marcêlho Rebêlho de Soiza, Presidente da República, vejam lá !!! E exactamente pelas mesmas razões que acudiram ao Esposo putativamente corneado e às velhas beatas. O Marcêlho notabilizou-se numas missas em português arcaico nos canais televisivos que fazem babar o populacho. Foi palhaço, quando se atirou ao Tejo com as televisões atrás. A única coisa decente que fez na vida ( e já não é pouco !) foi ensinar Direito - será que ensinou bem ? - em algumas Faculdades nacionais. Mas consta-me que , pelo menos numa delas, pretendeu salientar-se dizendo o pior possível do pensamento e da obra de um predecessor na pedagogia, também ele catedrático.
Este espécime não hesitou, por simples cálculo político, digno de pategos, em ir à Festa do Avante, dizendo umas amabilidades acerca de um Partido que ele profundamente detesta e ostraciza.
Isto é Marcêlho : o herói dos babosos, das beatas e dos tolos !
by Amadeu Homem
O meu esquentador da marca Vulcano click electrónico ventilado, um topo de gama portanto, com cerca de cinco anos cujo custo ronda os 400 euros, deu o berro
Num Domingo á tarde é muito chato mas repentinamente e sem qualquer razão aparente foi-se...
Não acendia e consequentemente não produzia labareda.
Através da internet descobri uma empresa ou pseudo empresa de nome SOSesquentadores com um site todo cheio de salamaleques e estabeleci contacto com um técnico, pensava eu.
Tal como prometido em contacto telefónico o ténico veio ainda no domingo ver o dito cujo prometendo uma analise, um arranjo no local e o custo seria o do equipamento a instalar acrescido da mão de obra.
Na realidade o técnico após fazer a analise visual do equipamento chegou à conclusão de que este não podia ser reparado no local.
Como não tinha outra opção, ele ia transportá-lo para as oficinas e dar-me-ia o orçamento logo na manhã
na segunda feira.
Na segunda feira, só junto à noite e porque lhe telefonei me disse via telemóvel que o aparelho precisava de peças novas e que no dia seguinte terça feira o esquentador estaria como novo colocado no sítio pelo orçamento de 190 euros.
De notar que, contrariamente ao prometido tal como diz o site, paguei ao técnico 30 euros de deslocação para vir ver aparelho, o arranjo já estava em 220 euros
Não tive outro remédio senão aceitar mesmo achando exagerado o preço da visita, reparação e montagem.
Na terça feira, cerca do meio dia, o técnico trouxe o aparelho colocou-o no lugar e fez alguns dois ou três ensaios que resultaram bem.
Confeccionei o almoço, tomei banho e à tarde quando pretendia de novo utilizar a água quente, o esquentador voltou a falhar.
Telefonei ao técnico para lhe espôr a situação, este explicou que era uma peça que não tinha sido substituída mas que viria na quarta feira dia 09/12/2015 tratar do assunto a minha casa embora isso me trouxesse mais custos acrescidos não especificando quais.
Na quarta- feira voltou de novo a minha casa transportando uma peça nova para instalar e disse-me que me custaria mais cem euros.
Também achei estranho o técnico não me fornecer um relatório especificando quais as peças colocadas ou reparadas, nem qual o seu custo ou o custo da mão de obra. Coisa que eu lhe tinha pedido.
Baldou-se a passar factura dizendo sempre que no fim trataría-mos disso.
Agora a minha questão é esta: Se o técnico levou o esquentador para ser reparado, e para serem substituídas algumas peças que segundo ele se encontravam danificadas e para ser testado no banco de ensaios.
Se o acordo, embora verbal, foi de colocar o esquentador como novo no local por 190 euros mais os 30 euros da análise
Nesta situação não acedi a mais uma tentativa para me estorquir dinheiro e o técnico abandonou o local todo zangadoe sem reparar o esquentador. Cheguei à conclusão de que fui burlado em 220 euros
Com que direito o técnico me pede de novo custos acrescidos para mais uma reparação que devia ter sido feita
na altura e que devia estar inserida no orçamento inicial?
Atenção portanto às empresas que fazem trabalho SOS
Atenção às empresas que tem sites muito bonitos e elaborados mas que não passam de burlões crminosos
Atenção às empresas que fazem serviço 24 horas por dia, 7 dia por semana, 365 dias por ano.
Atenção sobrtudo à empresa SOSesquentadores
Só para concluir: Entreguei o esquentador ào fabricante que o devolveu devidamente reparado e que me garantiu que nem um parafuso tinha sido mexido no seu interior.
Agora segue queixa crime por burla para as autoridades competentes e aguardamos pelo menos que este burlões sejam desmascarados para não haver mais gente a cair nestas armadilhas.
O futebol era uma paixão (24) – Crónica semanal
Só depois dos dez anos comecei a perceber o motivo de, até aí, nunca me ter sido recusado lugar nas equipas de futebol que nasciam espontâneas entre garotos. Talvez sentisse a falta de entusiasmo dos parceiros, mas no calor da disputa não via os esgares de dor que os erros de pontaria frequentemente provocavam quando, por inabilidade, a bola que tinha como alvo era substituída pelas canelas dos companheiros que se atravessavam na trajetória do meu pé.
Nunca, antes, me tinha interrogado sobre as qualidades para um desporto que exercia em mim uma atração irresistível. Jamais me dera conta da pouca habilidade que pudesse ter. Pelo contrário, algumas vezes tinham sido os outros a perguntar se não queria jogar à bola e a procurar convencer-me para ficar à baliza, lugar que a minha impaciência desprezava e eles tinham como o mais adequado ao meu perfil.
Só então me dei conta de ter sido dono da única bola, durante a instrução primária.
Depois, no liceu, perdida a proteção materna e o respeito devido, medroso e inábil, fui-me transformando no bode expiatório dos insucessos alheios, alvo de tareias com que os outros garotos se vingavam de um medíocre-menos a português ou de um mau-grande a matemática, num crescente prestígio que ultrapassou a turma que em breve perdeu o monopólio das sovas que me eram destinadas. Era medroso, já o disse, não é por me gabar, e a alcunha de Nené era um incentivo eficaz para avanços de algum mais timorato. Foram dois anos de excelentes notas e sólidas tareias, umas e outras em vias de extinção. As tareias terminaram quando reagi ao medo patológico e passei de bombo da festa a carrasco que desfeiteou dois colegas, em momentos diferentes, com violenta carga de pontapés fortalecidos pelo susto perante o gáudio de colegas que, em vez de me ovacionarem, apuparam as vítimas com expressões tão demolidoras como “até do Nené te deixaste bater”. Quanto às notas tive de esforçar-me menos, bastou o absentismo escolar, tendo quem respondesse por mim à chamada, abjurar os livros e começar a subir na consideração dos colegas, já ressarcido da ignomínia de ter frequentado o quadro de honra.
Alguns benefícios tive, pois, além de notas mais toleráveis pelos cábulas que eu idolatrava e que generosamente me acolheram. Não me deixei marcar por uma plêiade de incompetências pedagógicas nem tive necessidade de aprofundar a ciência sobre os estames da papoila e o órgão sexual da minhoca, ensinamentos que faziam corar os professores e emudecer de vergonha os alunos pelo carácter deletério, precursor da educação sexual que algumas décadas depois viria a ser objeto de reivindicação. Também me defendi de decorar o clima dos vários países, a fauna e a flora das colónias que a história se encarregaria de transformar em nações e outras inutilidades que levam as pessoas de então a repetir nostálgicas que nesse tempo é que se aprendia.
Mas o futebol continuou a exercer em mim uma irresistível atração e a permitir-me suportar estoicamente o escrutínio dos outros jogadores, cada vez mais difícil, para participar. Era comum estarem seis ou sete garotos de um lado e menos um do outro, única situação em que podia aspirar à seleção. Dizia-me a experiência que o regozijo seria de pouca dura e que à primeira canelada era corrido à chapada e a pontapé, para bem longe, negando-me o simples privilégio de espectador. Mesmo assim aguardava ansioso o momento da seleção.
A minha entrada era sempre precedida de silêncios estranhos e insuportáveis delongas, apesar da evidente utilidade de as equipas começarem patas em número de jogadores. Por fim alguém dizia, com ar de enfado, “aquela merda que jogue”, decisão que me inundava de felicidade não obstante os termos pouco estimulantes e o epíteto moderadamente depreciativo com que o convite era formulado.
In Pedras Soltas – Ed. 2006 (Esgotado) – Ortografia atualizada
Isto começa a cheirar mal e a tornar-se perigoso.
Ele foi o caso da velha Rosalina, secretária do Feteira.
assassinada por estes gajos para lhe roubarem o dinheiro.
Agora este caso.
Há Cosa Nostra metida na coisa. Ai há, há.
Há uns meses atrás, o Fisco andou nas bocas do mundo.
A lista VIP demitiu diretores e subdiretores-gerais e colocou em alvoroço toda a Autoridade Tributária.
Mas algo mais sinistro ocorreu, sem que ninguém tivesse dado por nada. No dia 28 de janeiro de 2014, o Correio da Manhã noticiava a repetição do chamado "Caso Beltrónica".
Um dos primeiros grandes casos de alegada corrupção na administração fiscal, envolvendo secretários de Estado e diretores de Finanças.
Corria o ano de 1998 quando uma inspeção à empresa Beltrónica identificou 3,8 milhões de euros de impostos por pagar.
O contribuinte reclamou e 36 liquidações "desapareceram" do sistema de cobrança.
O julgamento decorreu em 2012, sem condenações, mas a Relação decidiu a sua repetição este ano, com o argumento de que era "necessário fundamentar melhor a matéria de facto dada como não provada".
Desde o início de toda esta trama, Fernando Rocha, um funcionário dos Impostos, defendeu a existência de favorecimentos em várias esferas da administração fiscal.
Foi ouvido em sede disciplinar, testemunhou em julgamento... Curiosamente, a repetição ordenada pela Relação mandava ouvir novamente 30 testemunhas... mas excluiu Fernando Rocha.
Inconformado, o funcionário pediu para ser ouvido novamente.
Queria contar o que sempre soube mas que poucos queriam ouvir.
Não conseguiu! Fernando Rocha foi encontrado morto na sua casa nas Caldas da Rainha no passado dia 23 de fevereiro.
A causa da morte ainda é desconhecida, e o relatório da autópsia ainda não foi concluído.
É estranho, é lamentável. Eu conhecia o Fernando Rocha. Paz à sua alma!
A Senhora do Monte (23) – Crónica semanal
Nas aldeias da Beira Alta era hábito rezar, pelas intenções plenárias de cada mês, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, ir ao confesso e à eucaristia e, assim, alcançar as indulgências exigidas para a salvação da alma. Podia parecer injusto pôr garotos a rezar por pecados dos adultos, mas já se sabia que outros garotos o fariam quando adultos se tornassem esses para apreciar os pecados. Ficavam as rezas para as mulheres, que sempre as fariam, para os que ainda não sabiam pecar e para os que, sabendo, já não podiam. Era assim, há meio século, e disso se não livrou a criança que fui. Além das devoções locais outras havia que se cumpriam em paróquias próximas, que os transportes não permitiam lonjuras, com dia certo e local aprazado. A Senhora do Monte era um desses destinos.
Guardo da infância o gosto por romarias. Os santos domiciliavam-se no alto dos montes para ficarem a meio caminho entre os devotos que lhes pediam e o céu que os atendia. Eram mensageiros dedicados, imóveis numa peanha, ouvindo queixas, aceitando petições, a aliviarem o sofrimento. Raramente eram solicitados além das suas posses e, se soía, resignavam-se os mendicantes. Quanto mais perto do céu, maior respeito infundiam, mais petições recebiam, maiores expectativas geravam. Eu ficava a imaginar do que seriam capazes os que habitavam no cimo de montanhas muito altas, que sabia haver, sem cuidar das dificuldades de acesso dos requerentes.
Durante o ano, os santos concediam graças que eram agradecidas em Agosto com foguetes, missa e uma romaria profana que irritava os padres e alegrava os santos. Mas, de tanto pedirem, foi-se Deus cansando de os ouvir, primeiro, desinteressaram-se os crentes de implorar, depois, ou, talvez, a sangria da emigração converteu em deserto o terreno fértil da fé. É com saudade que recordo as ermidas abandonadas que outrora atraíam à sua volta feiras e procissões em confronto dialético do sagrado com o profano numa síntese admirável de que só o mundo rural era capaz.
A Senhora do Monte pertencia à paróquia da Cerdeira. Às vezes os santos tomavam as dores dos paroquianos e geravam a desconfiança dos vizinhos, mas não era o caso, por ser de concelho diferente e não haver rivalidades entre as paróquias.
Saíamos da Miuzela do Côa, manhã cedo, descíamos a aldeia, passávamos pela capelinha de S. Sebastião, deixando à direita, encostada ao cemitério, a vinha do passal que, no tempo da República, Paulo Afonso comprou à autoridade administrativa, valendo-lhe a excomunhão eclesiástica, vingança do pároco que reclamava a vinha e o regresso da monarquia. Viveu o réprobo em paz, sem que o anátema o apoquentasse, até ao dia em que teve de pedir a desexcomunhão, para que o filho pudesse franquear o seminário, custando-lhe a canónica amnistia outra vez o valor da vinha.
À beira do caminho havia agricultores, inquietos com a romaria, a guardar os melões, que a rapaziada cobiçava, e, ao longe, entre giestas, lobrigavam-se cachopas, deambulando à espera do encontro apalavrado, talvez mesmo alguma coitanaxa aflita por tornar-se dona.
Íamos pela fresca e regressávamos tarde, de estômago menos vazio, com fritos e vinho a justificarem a jornada, esquecida a devoção, a tropeçar nas pedras em noites de lua nova. Atrás de nós via-se um clarão, vindo da Guarda, à distância de seis léguas, no alto do monte onde chegara a luz elétrica, com a ermida de onde voltávamos perdida na escuridão da noite.
A Senhora do Monte há muito que não fazia um milagre de jeito mas tinha festa rija e um passado de respeito. Um dia o fogo subiu o monte impelido pelo vento e envolveu a capela, com gente aflita a orar. Abriram as portas e redobraram as orações, que em tempo de aflição se reza mais depressa para compensar a desatenção e acompanhar a ansiedade. Deixaram que a virgem visse o fogo e este a virgem. Foi então que as chamas baixaram e logo o fogo se deteve, enquanto, maravilha das maravilhas, prodígio nunca visto, começou o fogo a recuar e, à medida que a terra desardia, tornaram as plantas que a cobriam.
A Santa, por ter-se cansado ou perdido o jeito, renunciou aos milagres, mas os crentes não desistiram de a ver regressar ao ramo e fazer jus à glória antiga. Ainda assim, era muito solicitada por raparigas solteiras que lhe imploravam para as livrar da prenhez que em horas do demo pudessem ter contraído. Foi como contracetivo de eficácia duvidosa que conheci a Senhora do Monte nos tempos em que calcorreei os caminhos que lá me levaram.
. A Televisão nacional a qu...
. O Negócio da banha da cob...
. Burla